POESIAS - PALAVRAS - 2
ACENOS
02/03/14
I-85
Um simples aceno,
puro ou obsceno,
fala muito mais
que palavras normais.
Você apenas fitou-me,
com aquele seu olhar,
e por terra prostrou-me,
com um só aceno,
nada mais!
MEU LIVRO
23/08/2014
I-122
Um livro me foi aberto
ao meu nascer.
Será ele encerrado
quando eu morrer!
Páginas felizes...
páginas tristonhas...
páginas risonhas!
Páginas coladas,
que nem eu conheço!
Páginas odiadas,
que não mereço!
Há luzes em muitas delas,
como há algumas amassadas...
Algumas amarelas,
outras um tanto ousadas!
Posso dizer, entretanto,
que todas elas,
sem exceção,
terminam com um canto
de ação de graças
e com um pedido de perdão!
O PODER DAS PALAVRAS
(15/11/2014)
I-139
Diante de vós, Senhor,
coloco a minha vida,
minha alma ferida,
sedenta de amor!
São tantos os percalços,
desamores e desilusões,
são tantos corações
que se me revelaram falsos!
Minhas palavras fluem,
mas nem sempre parecem sensatas,
às vezes parecem ingratas,
e no nada se diluem!
Com isso eu me prejudico,
ao tentar socorrer,
ao tentar fazer reviver
o amigo, pobre ou rico.
Na minha vida eremítica
preciso reaprender
a calar-me e a viver
a sobriedade apocalíptica!
Eu me sinto num martírio
sem sangue, sem violência,
mas dói-me a consciência,
se eu me calo, com paciência
casto e quieto como um lírio!
A pureza isolada,
sem o amor da caridade,
deixou na orfandade
as cinco virgens desoladas,
sem o “azeite” da bondade.
Diante de Vós, Senhor,
coloco o meu querer,
ensinai-me a viver,
até morrer de amor!
PÁGINAS PASSADAS
(22/02/15)
I-158
Páginas passadas,
páginas em branco,
páginas viradas,
de conteúdo franco,
assim é o livro pesado
em que escrevi meu passado.
Há páginas coladas,
de que nem mesmo eu,
que ali deixei pegadas,
sei do conteúdo seu.
Páginas orantes,
páginas chorosas,
páginas pedantes,
páginas amorosas.
Se apenas uma só
pensasse eu escolher,
eu escolheria, sem dó,
a que me viu nascer!
ESTRO AMORDAÇADO
14/10/15
I-216
Minha musa foi obrigada a se calar,
em minha caneta secou-se a tinta!
Não pude deixar de chorar
ao ver minha obra extinta!
Porém
Um triste e simplório engano
é tentar fazer-me calar!
É como tentar represar
A água do oceano!
COM QUE PALAVRAS?
02/10/16
I-319
Com palavras não posso dizer
tudo o que me vai no coração,
tudo aquilo que me faz viver,
tanto no agir como na contemplação.
Busquei-as no mais fundo do mar,
no alto pico do Himalaia,
nos frutos do meu pomar,
na fina areia da praia.
Pesquisei florilégios poéticos,
enciclopédias e dicionários,
nos escritores mais ecléticos,
tanto realistas como visionários.
Jesus também tentou,
em palavras quis definir
a alegria do Reino que implantou,
mas só na cruz conseguiu se exprimir.
Toda a beleza que há no mundo
é de Deus uma tentativa
de mostrar-nos, do alto ao mais profundo,
sua bondade criativa!
Isolo-me do universo
e entro no seio divino.
Deixo de lado a prosa e o verso,
e em sua beleza me atino.
Muito mais que sentir,
é preciso viver a alegria,
esteja o mundo a nos sorrir,
ou debatendo-se na agonia.
OS LIVROS ME FALAM...
04/07/2019
I-370
Enquanto chove lá fora
e a internet se desligou,
eu me fecho na biblioteca,
tão abandonada,
e me incluo nas páginas envelhecidas
dos livros ali jazidos.
Meus olhos nas letras,
minha mente no espaço,
viaja por terras distantes,
terras ausentes,
ações mirabolantes,
fantasias ilusórias.
Os livros me falam
não daquilo que me mostram,
mas do íntimo de quem os mostra.
Ao repassar as palavras
sinto o que os autores sentem,
estou dentro de suas mentes,
seus pensamentos,
interajo com seus amores.
Dentro de mim
a curiosidade se desperta
preservo minha mente aberta,
e as sutis comparações,
não consigo evitar.
Eu me assusto,
eu choro,
eu me enraiveço,
eu amo,
eu sinto as injustiças,
eu me sinto alquebrado,
sorrio,
dou gargalhadas,
enquanto o autor viaja
pelo seu mundo encantado.
A noite está avançada.
Cochilo sobre as letras.
Num movimento forçado
deixo as páginas fechadas,
mesmo que a ação não esteja terminada,
e volto para o meu mundo,
para os meus próprios pensamentos,
para a minha própria mesmice,
para as minhas quatro paredes.
Adormeço.
Liberto o meu espírito,
que percorre os caminhos lidos,
não mais com os olhos do escritor,
mas com meus pobres olhos de leitor.
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