MOMENTO DE SOLIDÃO
14/05/1980
A-01
A folha seca desprendeu-se
da árvore frondosa
e caiu,
solitária,
no orvalho da grama pisada...
Meu olhar
desprendeu-se da vida agitada
e prendeu-se na folha caída...
Sumiram de mim os ruídos do mundo,
fugiram de mim os sonhos malucos...
Entre as cores, as flores,
as orquídeas e as mariposas,
o útil e o fútil,
vislumbrados por meus olhos,
uma e apenas uma coisa,
naquele místico instante,
podia chamar-me a atenção:
Da solitária árvore frondosa,
a única folha seca,
caída no orvalho do chão.
SEMPRE EM MEU CORAÇÃO
27/11/2011
A-08
Sempre no coração
A tristeza dos passos perdidos,
A alegria dos gritos contidos,
Que nunca pudemos dar.
Sempre no coração,
As asas da liberdade
Se quebraram,
Se partiram,
Não voam mais.
Sempre no coração
“A alegria de um barco voltando
A ternura de mãos se encontrando”
São apenas sonhos,
Nada mais!
Sempre no coração
Os tambores de guerra,
Invadem a terra,
Dissipam as cores,
Secam as flores,
Desertam florestas.
Sempre no coração
As aves que gorjeavam
Não gorjeiam mais.
Sempre no coração
Só desilusões e amargura,
E nada mais!
INSÔNIA
11/12/2011
A-15
O sol se foi,
a noite chegou,
o dia findou,
a angústia começou,
a cama tem espinhos.
O insone se vira pra cá, pra lá,
conta carneirinhos,
que acabaram dormindo
ao lado da cerca que deveriam pular.
Seus olhos, abertos,
sentidos despertos,
Ruídos infernais.
Lá fora, pássaros dormem,
corujas crocitam (piam),
grilos o irritam,
sapos coaxam,
Nada de luar.
A noite caminha,
chega ao fim.
O dia desponta,
e quando, finalmente ele dorme,
o despertador dispara,
chamando-o ao trabalho.
BRINQUEDO ESQUECIDO
28/05/2012
A-20
Às vezes
parece que o mundo é um quadrado,
o sol um triângulo,
a lua uma estrela.
Ao tentar saborear
os frutos do pomar
plantados e cuidados por décadas,
eles apodrecem nas mãos!
Ao buscar outro alimento,
de modo sofrido,
suado,
maltratado,
sob humilhações,
incompreensões,
iras,
invejas,
maledicências,
provações...
Deus nos alimenta.
Deus nos prova.
Testa nossa resistência.
Muitas vezes nos sentimos
“Como um pelicano no deserto” (Sl 102,7).
O que um pelicano faz no deserto?
Ele se alimenta de peixes!
É ave marítima!
Sta. Teresinha
queria ser uma bola de brinquedo
nas mãos do Menino Jesus,
para que ele brincasse à vontade,
e a jogasse para onde quisesse.
Jesus não é mais menino.
Não brinca mais com bolas.
Quando crescemos,
esquecemos nossos brinquedos no armário!
Somos talvez
como um antigo brinquedo esquecido.
Como um pedaço de pizza
sobrando no prato.
Entretanto, continuemos nosso caminho,
enquanto houver sol,
Enquanto houver caminho,
Enquanto houver esperança!
Espero com ardor
que os frutos do pomar
fiquem doces
e possamos desfrutar deles,
com Jesus,
ao lado da lareira do paraíso.
SUSSURRO
03/06/2012 –
A-384
A voz de Deus nos nossos ouvidos é apenas um leve sussurro,
mas tem a força de mil megatons...
A voz do mundo nos nossos ouvidos é um forte alarido
que nos ensurdece,
entristece,
escurece nossa vida,
desafina qualquer som.
Nossos passos lentos num caminho estreito
ainda esperam por uma decisão:
ou se alarga o caminho em que caminhamos,
ou alarguemos os limites do nosso coração!
O tempo passa, o tempo se acelera,
Nossos sonhos, um a um, pisados no chão.
Ao sentir-nos por Deus tanto amado,
as forças nos invadem,
nosso céu se ilumina,
o mundo se cala.
Alarguemos o caminho!
Escancaremos nosso coração!
O SILÊNCIO DA NOITE
– 17/06/2012
A-385
O silêncio da noite o agride,
grita-lhe no pensamento o que ele fora outrora,
o que passou,
o que fizeram dele,
o que ele será,
o que ele não poderá ser.
O silêncio da noite o envolve,
o fascina,
o aglutina,
faz com que ele vibre,
faz com que ele reze,
faz com que ele viva.
O silêncio da noite o faz ver
o negror das flores,
o sumiço das cores,
o céu estrelado,
o nada enluarado.
O silêncio da noite o vislumbra,
projeta-lhe nos olhos
a presença de Deus,
seu último adeus,
seus sonhos bonitos,
que viraram pesadelo.
No silêncio da noite a lua, tão bela,
torna-se amarela,
por um eclipse.
As nuvens chegaram,
as estrelas sumiram.
O silêncio da noite
acompanha lentamente
o ruído inaudível
de suas lágrimas caindo...